Peço perdão por todos os crimes que não cometi, por todas as verdades que não disse, por todas as ofensas que não proferi.
Peço perdão por todas as palavras que deixei sem serem ditas, por todos os sonhos que deixei de sonhar, por todos os beijos que não roubei.
Peço perdão por todas as vezes que não gritei, por todas as lágrimas que não chorei, por tantas as vezes que não lutei.
Peço perdão pela palavra calada, sufocada na garganta, sepultada viva dentro de mim.
Peço perdão por esse grito que vem da alma mas cala, covarde, ao deparar-se com aqueles que, para ele, não têm ouvidos.
Peço perdão por essa covardia inata que freia, estaca, emudece e recua.
Peço perdão pelo lábio que só roça em sonho, pela língua que só fala em verso, pelo corpo que transpira, morto.
Peço perdão pelas noites sem dormir, pelas manhãs sem despertar, pelos dias sem viver.
E peço perdão por esse monstro que vem de dentro e corrói, mata, consome toda a vida, imperdoável: a culpa de pedir perdão pela vida jamais vivida.
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