quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Sem Título

Eu imagino o seu corpo banhado de sangue, jogado no chão, e é belo.
Eu imagino os seus olhos sorridentes me fitando.
Eu imagino os seus lábios correndo pele de cima a baixo.
Gozo e luto.
Luta e sangue.
Sangue e vida.
Desejo e morte.

"O oposto da morte é o desejo. Você se admira?"

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Citação

"Se um dia precisares da minha vida, vem tomá-la..."
Nina

A Gaivota, de Anton Tchekhov

No Tempo de Um Ponteiro

Um segundo, apenas um segundo...

O copo que se espatifa no chão.
Os lábios que se tocam.
A corda que se parte.
Os olhos que se encontram.
A gota que transborda.

Um segundo...

A bala que deixa a arma.
A faca que fura a pele.
O sangue que estanca.
A veia que se rompe.
O respirar que se suspende.

As mãos que se roçam.
Os peitos que se apertam.
O corpo que convulsiona.
Um sonho que se acaba.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Petit Noir

No escuro não existem regras.
Dentes, carne, sangue.
No escuro as vozes ecoam alto.

"Quando se atravessa uma parede, nem mesmo a parede se dá conta disso"

Valsa em Um Tempo

Eles dançam, dançam, dançam.
Dois amantes numa praça escura.
Dois velhos embriagados.
Duas criadas entediadas.
Dois homens com facas nas mãos.
Duas mulheres com plumas no coque.
Dois cães raivosos.
Dois sorrisos desdenhosos.
Dois copos vazios.

Ridículos, absolutamente ridículos.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Teu

MALDITO!!
Por que me enfeitiçaste com esses teus olhos devassos se não querias amar?
Bem sei quanto desejo me revelaste. Acaso brincas com meu peito oco? Não me olhe com esses olhos ávidos se não me deseja arrancar a pele com os dentes!
Vá embora! Deixe meu pensamento em paz! Livre-me da tua lembrança vil!
Odeio-te por amar-te.
Onde está a cura dessa doença senão em teus lábios de demônio?
Eu juro! Um beijo, e minha alma será tua!
Apenas um, e me terás para todo o sempre...
Amém

sábado, 11 de dezembro de 2010

Brincadeira

Debaixo da cama.
Atrás da cortina.
Dentro do armário.
Nos bueiros,
Nas gavetas,
Dentro do bolso,
Atrás da porta.
Acostume-se,
Os olhos fogem.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Petit

Gosto do teu toque na minha pele
Gosto do teu hálito no meu rosto
Gosto dos teus sonhos nos meus olhos

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Citação

"Meus amores morreram
Antes de existir"

Charles Aznavour

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Inversão

Eu só queria chorar, chorar até que meus olhos escorressem pela face.
Queria que essa coisa que chamam de alma fosse uma besta engaiolada que se libertasse.
Queria que essa coisa que chamam paixão fosse um pássaro que se mata com uma pedra.
Queria que isso que bate no meu peito fosse uma máquina com ponteiros.
Queria que o herói fosse aquele que se esconde debaixo das cobertas ao som do relâmpago.
Queria que a pele fosse plástico, que o nervo fosse aço, que o osso fosse gesso.
Queria que a morte fosse dança.
Queria que o mundo fosse sonho.
Queria que o corpo fosse oco.
Queria que tudo o que quero fosse o que é.

Ao Som de Um Piano

"A única diferença que existe entre um capricho e uma paixão eterna é que o capricho é muito mais duradouro" - Oscar Wilde


Lá fora chove.
Me encontro aqui, exausto.Chego a querer adormecer por cem anos..ou mais.
Essa vida de embalagem vazia não é o suficiente. Não é o mínimo.

Ah, se você soubesse quantas noites tenho chorado essas lágrimas secas, estéreis, carentes de fecundação. Lágrimas que jamais me rolaram a face, fracas que estão para sequer deixar o abrigo dos olhos.

Os olhos...
Ah, esses seus olhos...
Quantas noites não tiveram o prazer de beijar essas pálpebras adormecidas? Quantos céus azúis não foram refletidos pelo negrume dessas pupilas?
Esses olhos que me fazem querer perder-me, sem jamais encontrar a saída, que me fazem querer mergulhar nessa escuridão e nela me afogar.

Por que? Por que?!
Por que não me saem da cabeça esses seus olhos de corvo?
Quero parar esse precipitar que me corre nas artérias, essa dor que me pressiona o cérebro, esse ar que se excede e me sufoca, esse grito que morre antes de chegar na garganta.

Mas não, não!
Não quero! Como é doce a dor que oprime o peito.
Venha, conceda-me essa dor.
Conceda-me a dor de observar o suave arfar de seu peito adormecido.
Conceda-me a dor de perdê-lo mil vezes.
Conceda-me a dor de observá-lo partir pela manhã, sem saber se retornará.

Lá fora chove, e onde está?
Adormeceu, talvez?
Uma sombra de beijo no canto de seus lábios, e boa noite...